A Direcção da Cochrane Portugal tem seguido com atenção os recentes acontecimentos referentes à expulsão de um dos elementos do Governing Board (GB) e da saída de alguns outros deste órgão de gestão da organização.
A posição da Cochrane Portugal está de acordo com a da Rede Iberoamericana (a que pertence), subscrevendo o texto que foi por aquela enviada ao GB (aqui).
A Cochrane Portugal reafirma a sua confiança nesta organização singularmente prestigiada, continuando envolvida na sua expansão e desenvolvimento, quer a nível nacional quer internacional.
António Vaz Carneiro, MD, PhD, FACP, FESC
(Director)
"Estimados Membros da Cochrane,
Os abaixo assinados, na sua grande maioria, Directores dos Centros Nacionais e Associados que integram a rede Cochrane Iberoamericana, decidiram partilhar convosco a nossa posição sobre os eventos que recentemente abalaram a nossa organização. Fazemo-lo, de forma livre e construtiva, utilizando os canais para comunicações internas, convictos que, deste modo, contribuímos para manter os princípios que sempre inspiraram a Cochrane e a transformaram numa organização louvável e de referência. Além disso, sentimos que é nosso dever fazê-lo, indo assim ao encontro do que é esperado da nossa parte, tanto a nível interno como externo.
O Conselho de Administração da Cochrane acaba de expulsar Peter Gøtzsche e, por conseguinte, de o afastar dos seus cargos como membro do Conselho e Director do Centro Nórdico da Cochrane. A ampla cobertura social e mediática da posição defendida por Peter Gøtzsche aliada ao facto de este ser uma figura de relevo na Cochrane, reconhecido a nível internacional, impulsionou esta decisão. No entanto, a nossa preocupação vai para além da relação de tantos anos com um colega próximo e prende-se também com outros aspectos sobre este caso que levantam dúvidas e questões que precisam de respostas.
Na nossa opinião, o mais importante neste caso é esclarecer como é que uma organização que declara querer ser inclusiva e transparente, vê na expulsão de um dos seus membros a solução deste conflito. Mas também, qual o compromisso que os membros desta organização estão dispostos a assumir para melhorar o funcionamento e resultados da Cochrane, incluindo a produção de revisões sistemáticas, de forma a que esta mantenha a sua posição inquestionável na área, uma vez solucionados todos os criticismos.
Apesar de ser um conflito antigo, este teve um desfecho inesperado, não só para a pessoa lesada, como também para a organização. Tendo como base a informação disponibilizada, temos dúvidas de que o processo tenha sido suficientemente apropriado e coerente com os princípios da Cochrane. Na nossa opinião, os regulamentos internos da organização são insuficientes para julgar e qualificar potenciais comportamentos inadequados dos seus membros. Sentimos que a nossa organização não está devidamente preparada para qualificar e/ou julgar tais comportamentos, mas também que não dispõe dos recursos para a imparcial avaliação dos argumentos das partes envolvidas, nem tão pouco, dos mecanismos para impor sanções justas e adequadas. Qualquer entidade, seja ela, um partido político, um sindicato, uma organização religiosa ou uma universidade, dispõe de mecanismos internos bem definidos que garantam uma análise objectiva das acusações e defesas, bem como o direito de requerer o envolvimento de uma comissão neutra, externa ao conflito, visando a sua solução. Estes mecanismos e processos associados devem ser transparentes e auditáveis – tanto quanto a privacidade e a confidencialidade dos sujeitos envolvidos o permitam. Na nossa opinião, é necessário, apesar de não ser suficiente, respeitar os estatutos legais da organização; são igualmente necessárias doses substanciais de flexibilidade, equanimidade e generosidade, para que a decisões tomadas sejam as mais benéficas no tempo e na forma, e os danos colaterais minimizados.
A expulsão de um membro de uma organização nunca pode tornar-se ou assemelhar-se a um processo sumário, o qual carece de transparência. Esta foi, como nós, e muitas outras pessoas na nossa organização e fora dela, entendemos ter sido a solução deste conflito. Portanto, perguntamos de que forma é que o Conselho de Administração geriu a política de comunicação interna e externa, e se foi capaz de antecipar e evitar os danos inquestionáveis que este conflito causou à imagem da Cochrane.
Não queremos que a Cochrane se transforme numa organização que aceita de forma passiva as decisões dos seus líderes – independentemente de quem sejam – sem antes, accionar os mecanismos colectivos de discussão, confronto de posições e controlo. Pelo contrário, queremos ser uma entidade activa, capaz de abordar e discutir com maturidade e honestidade todos os conflitos e questões importantes como esta, de um modo transparente, construtivo, flexível e enriquecedor, o que terá consequências para o futuro.
Por tudo isto, propomos três medidas:
1. Propomos que o Conselho de Administração convoque eleições imediatas com a finalidade de preencher e renovar os cargos deixados vagos no Conselho. Isto vai permitir incorporar novas perspectivas e sensibilidades, e em particular, no que toca à gestão desta questão.
2. Propomos que a nova Direcção nomeei uma Comissão ad-hoc, excluindo a participação de qualquer pessoa que tenha estado directamente envolvida no conflito, com o objectivo de conduzir uma investigação independente que examine todas as acções relacionadas com o mesmo e seja capaz de atribuir responsabilidades aos envolvidos.
3. Propomos também que o relatório da referida Comissão seja conhecido e discutido pelos diferentes membros e entidades que integram a Cochrane, para que as conclusões desta discussão possam ser incorporadas nos regulamentos e processos da organização: garantias e regras para avaliar objectivamente possíveis falhas e respeitar a presunção da inocência, o direito à defesa, à igualdade de oportunidades, e à imparcialidade daqueles que avaliam as alegadas falhas e aplicam sanções proporcionais às infracções cometidas, caso existam.
Em muito agradecemos a sua consideração.
Assinaturas (31 de 31):
Xavier Bonfill, director del Centro Cochrane Iberoamericano, España
Gerard Urrútia, subdirector del Centro Cochrane Iberoamericano, España
Juan Erviti, director del Centro Cochrane Asociado de Navarra, España
Francisco Javier Ballesteros, director del Centro Cochrane Asociado del País Vasco, España
Jesús López Alcalde, director del Centro Cochrane Asociado de Madrid, España
Agustín Ciapponi, director del Centro Nacional Argentino y director del Centro Cochrane Asociado del Instituto de Efectividad Clínica y Sanitaria (IECS), Argentina
Juan Franco, director del Centro Cochrane Asociado del Instituto Universitario Hospital Italiano de Buenos Aires, Argentina
Yanina Sguassero, directora de Centro Cochrane Asociado del CREP, Argentina
Gabriel Rada, director del Centro Nacional Chileno y director del Centro Cochrane Asociado de la Unidad de Medicina Basada en Evidencia, Chile
Marcela Cortés, subdirectora del Centro Nacional Chileno y directora del Centro Cochrane Asociado de la Universidad Católica de la Santísima Concepción, Chile
Pamela Serón, directora del Centro Cochrane Asociado de la Universidad de la Frontera (UFRO), Chile
Julio Villanueva, director del Centro Cochrane Asociado de la Facultad de Odontología de la Universidad de Chile
Eva Madrid, directora del Centro Cochrane Asociado de la Universidad de Valparaíso, Chile
Giordano Pérez-Gaxiola, director del Centro Nacional Mexicano y del Centro Cochrane Asociado del Hospital Pediátrico de Sinaloa “Dr. Rigoberto Aguilar Pico”, México
Juan Garduño, subdirector del Centro Nacional Mexicano y director del Centro Cochrane Asociado del Hospital Infantil de México Federico Gómez
Netzahualpilli Delgado, director del Centro Cochrane Asociado de la Universidad de Guadalajara, México
Norberto Carlos Chávez, director del Centro Cochrane Asociado de la Fundación Clínica Médica Sur, México
María Ximena Rojas, directora del Centro Nacional Colombiano y directora del Centro Cochrane Asociado de la Pontificia Universidad Javeriana, Colombia
Héctor Iván García, subdirector del Centro Nacional Colombiano y director del Centro Cochrane Asociado de la Universidad de Antioquia, Colombia
Iván Flórez, subdirector del Centro Cochrane Asociado de la Universidad de Antioquia, Colombia
Edgar Debrey Hernández, director del Centro Cochrane Asociado de la Universidad Nacional de Colombia
Ricardo Hidalgo, director del Centro Cochrane Asociado de la Universidad UTE, Ecuador
Daniel Simancas, subdirector del Centro Cochrane Asociado de la Universidad UTE, Ecuador
Mario Tristán, director del Centro Cochrane Asociado de la Fundación Instituto Centroamericano de Salud Internacional, Costa Rica
Pedro Mas Bermejo, director del Centro Cochrane Asociado del Instituto de Medicina Tropical “Pedro Kourí”, Cuba
César Loza, director del Centro Cochrane Asociado de la Universidad Peruana Cayetano Heredia, Perú
Patricia Caballero, directora del Centro Cochrane Asociado del Instituto Nacional de Salud, Perú
Oscar Gianneo, director del Centro Cochrane Asociado del Fondo Nacional de Recursos, Uruguay
Pilar Navía, directora del Centro Cochrane Asociado de la Universidad Mayor de San Andrés, Bolivia
Antonio Vaz Carneiro, director of Cochrane Portugal
João Costa, co-director of Cochrane Portugal
(Actualizado a 6 de Outubro de 2018)"